Ela olhava para a tela do computador desanimada, nem parecia que estava lá, seu olhar era distante, como que se de certa maneira estivesse pensando em outra coisa, suas olheiras bem acentuadas mostrava que não tinha um bom sono há dias, passou o dia inteiro tomando café e indo ao banheiro para passar uma água no rosto, todos no escritório notavam isso, porém tinham medo de perguntar e tomar uma patada, chegou de mau humor sem falar bom dia para ninguém.
Ele estava animado havia pulado cedo da cama mesmo assim com um sorriso enorme no rosto, passou na padaria para comer um pão com graxa e um pingado, mesmo trabalhando em uma empresa grande e ganhando relativamente bem, tinha hábitos simples, no trabalho não via a hora de chegar a hora de ir embora para aproveitar o feriadão, estava mais agitado do que de costume e comentava com o pessoal que estava louco para ir logo para a praia, fazia tempo que não saia e a todo momento ligava aos amigos para combinar as coisas.
Na noite anterior, ela que havia rolado na cama sem conseguir pregar os olhos, uma certa hora da noite levantou de vez e ficou sentada na cama, relembrando o passado e se lamentando pelos problemas presentes, caminhou para janela e começou a olhar para o horizonte, as luzes da cidade a distraia, olhava também para uma pessoa que passava pela madrugada, com passos largos e olhando para todos os lados, parecia esperar pelo pior, ela ficou por algum tempo o olhando e tentando imaginar o que passava pela cabeça dele numa hora daquelas, sozinho a noite, o vento fresco batia no rosto e por um segundo apenas por um segundo ela pensou em se jogar de lá, talvez um daqueles momentos de loucura que todos têm de vez em quando, ficou imaginando como seria sua morte, mas depois caiu em si e decidiu se afastar da janela, foi até a cozinha, bebeu um copo de água e deitou-se de novo, quando estava pegando no sono o sol já havia nascido e decidiu se levantar, porque apesar se ser braço direito do presidente da empresa não podia faltar assim do nada.
Na noite anterior ele também mal dormiu, mas por ter chegado tarde da rua, deitou-se naquele quarto que havia alugado de uma senhora, ligou a rádio e foi dormir. Acordou como sempre no mesmo horário, tomou um banho, se arrumou e olhou um retrato de sua mãe e irmãos, começou a se lembrar, daquela sua casa humilde no interior, de seus irmãos, de seu ausente pai, de sua mãe no sofá de casa sentada costurando e cantando, lembrou-se também do dia em que decidiu sair de casa para tentar uma vida nova na capital, da sensação de liberdade e receio quando saiu apenas munido da coragem, sozinho, da sensação ao chegar, das dificuldades que havia passado e que logo o dinheiro para comprar a tão sonhada casa já estava completo, aquela foi a primeira vez em anos que ele parava para pensar no passado, guardou o retrato e foi para o trabalho ainda mais animado, se sentia feliz pela liberdade.
Ela havia sido dispensada mais cedo, pois não estava muito bem, passou na casa de seu ex-namorado, mas ele não estava lá, acabou pegando um caminho com um congestionamento e ficou lá a olhar novamente o mundo com indiferença, via as pessoas apressadas, as crianças fazendo marabalismo e os bebuns nos bares enchendo a cara depois do expediente.
Ele assim que saiu passou no posto e falou para encher o tanque dizendo ao velho conhecido do posto “É hoje que eu vou pra Miami” dando tapinhas no tanque da moto, colocou um óculos escuro na cara, desceu a rua e viu aquele engarrafamento, mas não havia engarrafamento que iria o impedir, começou a pegar os corredores, um a um, deixando alguns motoristas irritados.
Finalmente ela já estava perto da faixa e parou para olhar um garoto todo sujo que se divertia num canteiro de areia próximo a pista, mas foi interrompida por buzinas que avisavam que o farol já estava aberto, mas quando foi acelerar o farol voltou a fechar recebendo assim vários xingos, o farol estava para abrir quando ela pisou fundo e acelerou para sentir uma certa liberdade naquele ato, mas quando estava já há mil se assustou e freou bruscamente fazendo os outros carros também frearem num efeito dominó até que um motociclista voou por cima de alguns carros e foi parar perto de um ônibus, o povo horrorizado olhava pela janela, ela se aproximou em meio a roda de gente que o cercava e ficou olhando a cena perplexa não pôde deixar de sentir a culpa e tentar imaginar o que ele sentia no momento, o que passava por sua cabeça naquela hora, não conseguia parar de olhar para o infeliz que suspirava com sangue no rosto fazendo bolhas de ar com sua respiração fraca, o sangue grosso na guia, a tremedeira em seu corpo, aquele olhar vazio, sem expressão, mas que dizia milhares de coisas.
Ele via todos ao seu redor desesperados, olhando com nojo, em estado de choque e aquela roda de gente que nem sequer tentava o ajudar, não pensou na família, não pensou em nada, só não sabia que no dia em que morresse conseguiria achar graça no vestido ridículo que a mulher que o olhava estava usando.
Assim que chegou o resgate ela fitou o bombeiro e ficou tentando imaginar o que passava pela cabeça dele naquele momento, de repente ela viu o garoto do canteiro olhando para o corpo do motociclista, e olhou para o garoto tentando imaginar o que o garoto estava sentindo naquele momento e o que ele estava pensando, também pensou no que o garoto pensou que o motociclista tava pensando naquele exato momento, se é que o garoto tentava imaginar o que o motociclista pensava, de repente ela viu um homem a olhando, e tentou imaginar o que ele estava pensando e se ele também estava tentando imaginar o que ela estava pensando, e se estava, se sabia que ela estava tentando imaginar o que ele estava pensando.
Parou um pouco olhou para o cachorro que latia feito um cachorro na pista, e ficou tentando imaginar o que o cachorro estava pensando, se é que estava pensando, o que ele achava que ela pensava que ele pensava...
Pensar enlouquece, pense nisso!
Nota: Essa mulher cujo nome Márcia Jesus Guilhen deve ser mantido em sigilo, hoje se encontra num hospício fazendo um tratamento intensivo. Posso te fazer uma pergunta? O que você pensa que eu estava pensando que você iria pensar ao ler esse texto, será que você sabe o que eu imaginava?Porque se você for ver bem...
5 comentários:
nunca tinha percebido isso ...
mas parando pra pensar, analisar ...
pensar realmente enlouquece
Putz, q coisa mais confusa... isso de pensar!!!
Algumas vezes pensar até dói.
Ah, sim. O texto é muito classe!!!
Parei!!!! rsrsrsrsrsrs
Exatamente agora q é pra naum embaralhar ainda mais...rs
Um bjo pra vc querido!!!!
Ixi... Pensar enlouquece sim e eu já descobri isso há bastante tempo... Mas é um mal extremamente necessário. E como diz o filósofo "Penso, logo existo". é fator primordial!!!
Beijo grande!!
C.Q.C.M cara vc ja esta chegando ao extremo saia de casa um pouco ... Eu sei que sua causa eh nobre tambem quero que para as pesquisas com porcos ..mas fikar recluso em casa nao dar em nada temos que ir para rua e causar o maior tumulto na frente da prefeitura com apitos e bandeirolas ...adeus caro amigo .
obs: sobre o texto : esta muito bom comu tudo oq vc escreve ( devo ser mais sensato as veses )...e sim pensar enlouquece vc que diria .
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